Era
o dia seguinte. O dia depois do sonho ruim, que durou anos. O dia seguinte da
minha saída da sala de eterna espera, da desistência de ser atendida. Era o dia
depois de amanhã, depois do amanhã que nunca chegava. Acordei nesse dia,
simples assim. Com o sol entrando pela janela e clareando toda os medos embaixo
da cama, com o vento levando toda a sujeira embaixo do tapete. Era o dia do
recomeço, do começo do fim e do resto da minha vida. Da minha paz. Dormi, como
sempre, esperando que tudo passasse e nessa noite realmente passou. Acordei sem
sangue, sem curativo, com uma pequena cicatriz. Pude levantar sem algemas,
lavar o rosto sem maquiagem, olhar pra trás sem sentir dor. Era data de faxina,
apagar fotos, jogar fora cartas, me livrar de qualquer prova que pudesse ser
usada contra mim num dia banal de saudade. Exclui telefones, fiz questão de
esquecer datas. Não
tinha pontada no estômago, preocupação, agonia, arrependimento. Tava tão vazia, que não sai andando, flutuei. Bom dia, mundo. E os olhos doeram, como quem passa anos numa caverna escura e, de repente, tem contato com a luz. Mais logo se acostumaram, com um alívio de quem volta a ver. Como quem volta a reparar nas flores. Flores que você nunca me deu. Lembro e sorrio, pensando no seu “Te ligo!” e em como isso nunca aconteceu. Gangorra me enjoa e pra não vomitar, te deixo sozinho, brincando de castigo com alguém nunca melhor do que eu. Vê se não fica triste, porque toda solidão que existe nunca vai superar todo o tempo que você me enlouqueceu. Fica bem, fica sem, porque acabou o jogo, camisa de força pra mim já virou roupa básica e decorei todas as suas desculpas clássicas, pra te deixar esperando até o fim. Sou louca, livre, sou minha e hoje é o dia de viver pra mim.
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